Agrivalle 04: abril de 2022 (ref. março de 2022)

Agrivalle Markets 04: abril de 2022 (ref. março de 2022)
E vamos ao nosso resumo dos fatos e números do agro em março e o que acompanhar em abril no setor. Na economia mundial e brasileira, o Boletim Focus do Banco Central (Bacen) de 14 de março indica que a Selic deve atingir 12,75% no final de 2022 e 8,75% em 2023, enquanto que o IPCA chegará a 6,64% e 3,70%, respectivamente.             
O país deve apresentar uma singela melhoria em seu PIB (Produto Interno Bruto), com crescimento de 0,49% neste ano e 1,43% no próximo. Por sua vez, o câmbio deve ficar em R$ 5,30 ao fim de 2022 e R$ 5,21 no término de 2023.          
 Outras instituições financeiras são menos otimistas com o cenário de inflação. A XP acredita que o IPCA deva fechar este ano em 6,2%, resultante do choque de custos advindo dos conflitos no Leste Europeu. Com reflexos também em 2023, a taxa básica de juros está projetada em 3,8%, superior àquela esperada pelo Bacen.
No cenário global, a Comissão Europeia anunciou projeto que visa a independência energética do bloco nos próximos anos, consequência dos desdobramentos da guerra entre Rússia e Ucrânia e dos possíveis impactos que restrições no fornecimento de gás natural podem trazer à Europa. O plano prevê substituição do gás natural pelo biometano, com a meta de dobrar para 35 bilhões de metros cúbicos a produção da fonte bioenergética até 2030.          
Em março, na economia global, a grande variável é o tempo de duração da invasão russa na Ucrânia, pois os preços altos da energia podem roubar até 1% da expectativa de crescimento do PIB, ficando agora em cerca de 4%.

Índice de preços de alimentos em março de 2022

No agro mundial e brasileiro, em fevereiro, o índice de preços de alimentos da Agência das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) alcançou 140,7 pontos, crescimento de 3,9% em relação a janeiro e de 24,1% em relação ao mesmo mês de 2021. O valor é também o maior já registrado, superando a máxima de fevereiro de 2011. Óleos vegetais e produtos lácteos seguem sendo os que lideram a alta.

Milho, soja e algodão – safra brasileira em março de 2022

No 6° levantamento da safra brasileira de grãos em 2021/22, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) revisou a oferta total de 268,2 (fevereiro) para 265,7 milhões de t (março), queda de 0,9% em um mês, e mais um reflexo dos impactos do clima no campo. Em mais um mês, a soja foi a principal impulsionadora desta queda, com produção agora estimada em 122,8 milhões de t; 2,2% menor que o apontado em fevereiro e 11,1% a menos do que a produção de 2020/21. 
Na cultura do milho, a oferta foi mantida nos mesmos níveis, em 112,3 milhões de t; volume que é 29,0% superior ao do ciclo passado, a depender de como será nosso desempenho produtivo na safrinha. A primeira safra de milho deve entregar 24,3 milhões de t, e a segunda, algo em torno de 86,2 milhões de t. 
Por fim, no algodão em pluma, a estimativa está agora em 2,824 milhões de t, salto de 4,2% em um mês e 19,7% maior que a produção do ciclo passado. Aparentemente, o clima está favorecendo as lavouras, que se encontram em pleno desenvolvimento.

Plantio milho soja algodão em março de 2022

No campo, o plantio do milho 2ª safra alcançou 87,4% das áreas totais previstas para o ciclo 2021/22 até o último dia 12 de março; contra 71,5% na mesma data de 2021. No Mato Grosso, principal estado produtor, o plantio está em reta final, com 98,1% das áreas já semeadas. Já a colheita do milho 1ª safra segue um pouco mais lenta, com progresso de 33,7% até 12 de março; há um ano era de 32,8%. 
Na soja, a colheita havia alcançado 63,1% de progresso, contra 48,6% na mesma data do ciclo passado.  Por fim, o plantio do algodão foi concluído em todas as regiões produtoras e a colheita deve ser iniciada nos próximos dias. Os dados são da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Estimativas do USDA para a produção de grãos

No cenário global, o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) aponta novas estimativas para a produção de grãos em relatório divulgado no início de março. No milho, o órgão reviu a oferta global para 1.206,1 milhão de t; alta de 0,6% em relação ao relatório de fevereiro e de 7,3% em relação a produção de 2020/21. 
Entre os principais países produtores, a oferta foi mantida nos EUA, China e Brasil em 383,9, 272,5 e 114,0 milhões de t, respectivamente. Na comparação com a safra passada, estes três países devem entregar 7,1%, 4,5% e 31,0% a mais do cereal. Na Argentina, a produção foi reduzida de 54,0 para 53,0 milhões de t, 1,8% menor
Apesar do maior volume de produção global, o USDA estima estoques menores este mês – em 1,3 milhão de t – apontados agora em 300,9 milhões de t. Ainda assim, o volume armazenado do grão deve ser 3,2% superior ao registrado em 2020/21.

Estimativas do USDA para a produção de soja

Na soja, o USDA segue jogando para baixo as estimativas. Neste mês Em março, o departamento apontou a oferta em 353,8 milhões de t; em fevereiro estava em 363,9 milhões de t, ou seja, 2,8% menor este mês. Com isso, a produção da leguminosa será 3,4% menor que 2020/21. A redução é reflexo da baixa na oferta do Brasil, principal produtor, que tem produção estimada, agora (março), em 127,0 milhões de t, contra 134,0 de fevereiro e 138,0 de 2020/21. Dessa forma, nosso país deve entregar 8,0% a menos nesta safra
Nos demais países, segue o cenário: EUA teve valores mantidos em 120,7 milhões de t; Argentina teve a produção reduzida de 45,0 para 43,5 milhões de t; e China segue com 16,4 milhões de t. Como consequência das baixas, os estoques da leguminosa devem ficar em torno de 89,9 milhões de t, 11,9 milhões de t a menos em relação a 2020/21, quando os estoques foram apontados em 101,8 milhões de t.

Exportações em março de 2022

De volta ao Brasil, as exportações do agronegócio seguem com desempenho impressionante em março! Em fevereiro, o setor vendeu US$ 10,51 bilhões, 65,8% a mais que no mesmo mês de 2021, e valor nunca alcançado neste mês; ou seja, mais um recorde para nossa lista! 
O desempenho é resultado do crescimento tanto dos preços (+24,0%) como dos volumes embarcados (+33,7%). Na lista dos 5 principais produtos vendidos temos, na liderança, o complexo soja, que arrecadou US$ 4,00 bilhões, alta de 151,7%, sendo que a modalidade grãos embarcou US$ 3,14 bilhões (+ 203,4%). 
Na segunda posição aparecem as carnes, com receitas em US$ 1,80 bilhão (+ 40,5%) em março. A carne bovina entregou US$ 965,0 milhões (+ 75,1%); a de frango vendeu US$ 643,1 milhões (+ 26,0%); e a suína 145,0 milhões (- 21,2%). Em seguida, aparecem os produtos florestais, com US$ 1,17 bilhão, crescimento de 38,4% no comparativo com fevereiro passado. Em quarto lugar ficou o café, com US$ 880,7 milhões (+ 94,1%) e, por fim, na quinta colocação, temos o complexo sucroalcooleiro com vendas em US$ 705,2 milhões, alta de 7,0%.
Outros destaques importantes em relação ao desempenho exportador em fevereiro, considerando todos os setores da economia, o agro exportou quase metade da receita, cerca de 46,0%. Em termos de volume, exportamos 6,2 milhões de t de soja, sendo que 4,3 milhões (quase 70%) teve a China como destino; os embarques de farelo de soja cresceram 50,0% no mês, alcançando US$ 700 milhões; e a China aumentou as compras de carne bovina em 109,0%, em torno de US$ 546 milhões.

Importações em março de 2022

Do outro lado da balança comercial, em março, o setor importou US$ 1,246 bilhão, valor que é 2,0% maior que as importações de fevereiro de 2021, ou seja, o ritmo de crescimento das vendas é bem maior do que o das compras! Com isso, a balança comercial do setor fechou o mês com saldo positivo de US$ 9,2 bilhões. No acumulado de 2022, as exportações do agro brasileiro já somam US$ 19,3 bilhões, alta de 62,2%!
Agrivalle Markets 04: abril de 2022 (ref. março de 2022)

Protagonismo brasileiro 

De acordo com as estimativas de longo prazo do USDA, o Brasil deve se consolidar cada vez mais como protagonista no mercado internacional de alimentos e bioprodutos. As exportações de soja, por exemplo, foram avaliadas pelo órgão americano em 136 milhões de t para 2031/32, o que representaria 62% do comércio global. No milho, os embarques devem chegar a 65 milhões de t, participando de 26% dos fluxos internacionais do cereal. Já no algodão, a participação brasileira deve crescer de 17% para 27% do suprimento global. 
Por sua vez, nas carnes bovina e de frango, o Brasil deve manter sua liderança, exportando 3,69 milhões de t e 5,2 milhões de t, respectivamente. 
Dentro desse contexto, devemos ganhar pontos sobre os EUA e os preços tendem a uma acomodação ao longo dos anos, saindo dos elevados patamares encontrados hoje. O relatório também aponta mercados que merecem atenção: Egito e Iran para milho; Vietnã e Bangladesh para o algodão; e México, Filipinas, Indonésia e Malásia para carne bovina.

O agro nos trilhos

E falando em suprimentos, do total de cargas movimentadas pelo agronegócio em 2021, 40% foi realizado através do modal ferroviário, segundo dados apurados pelo Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial da Esalq/USP (Esalq-Log). 33 milhões de t de soja foram transportados pelas malhas ferroviárias, 8 milhões de t de farelo, 12 milhões de t de milho, 15 milhões de açúcar e 6 milhões de fertilizantes. 
A utilização das ferrovias no escoamento dos produtos deve crescer nos próximos 10 anos, com aportes em projetos de longo prazo, em casos como a Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (Fico) e a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol).

Reflexos da invasão da Ucrânia no agro brasileiro 

No imbróglio da invasão no Leste Europeu entrou pelo mês de março, e o governo Ucraniano decidiu proibir as exportações de diversos produtos agrícolas até o final de 2022, dentre os quais estão cereais como o trigo, centeio e cevada, além de açúcar, sal, carne e mel. O objetivo do governo é evitar uma catástrofe humanitária no país e garantir a estabilidade na oferta desses alimentos.
Ainda tratando das consequências da invasão, o preço do trigo tem alcançado patamares recordes na Bolsa de Chicago desde o início do conflito. As cotações estão próximas a US$ 1,30 por bushel, tendo aumentado 67,13% desde o início do ano, segundo dados do Valor Data. O fluxo de comercialização do cereal segue interrompido nos portos do Mar Negro e Mar de Azov, gerando preocupação por parte dos importadores com o cenário de oferta limitada. O quanto vai perdurar este problema será decisivo nas cotações do produto.

Rumo ao Plano Nacional de Fertilizantes (PNF)

No Brasil, as preocupações com o fornecimento de fertilizantes, especialmente de volumes advindos da Rússia e de Belarus, continuaram em março e motivaram o Governo Federal a lançar o Plano Nacional de Fertilizantes (PNF), o qual contempla a estratégia para redução da dependência brasileira de importações desse insumo de 85% para 45%, considerando os próximos 28 anos
O plano aposta no desenvolvimento de tecnologias apropriadas ao ambiente tropical, com oportunidades para produtos emergentes, como é o caso dos fertilizantes orgânicos e organominerais, bioinsumos e biomoléculas, remineralizadores, entre outros. Além disso, o PNF deve facilitar o ambiente de negócios, com política fiscal favorável, linhas de financiamento, incentivo a ações privadas e melhoria na infraestrutura e logística nacional. Devemos colher um impacto dessa iniciativa a longo prazo!
A fim de contribuir com todo este cenário turbulento, preparamos uma análise especial acerca do mercado de fertilizantes, a qual está disponível em forma de anexo, ao final deste texto. O quadro tem como objetivo apontar os fatos e impactos que têm relação com o fornecimento destes insumos, bem como quais podem ser as medidas (atos) utilizadas a fim de reduzir riscos e gerar melhores resultados.
Se consolidando Consolidando-se como uma das principais empresas brasileiras e mundiais no desenvolvimento de bioinsumos, a Agrivalle está intensificando seus investimentos em capacidade produtiva. A companhia que cresceu 48% em 2021, inaugurou uma nova fábrica em Indaiatuba-SP na qual foram investidos R$ 70 milhões, com o objetivo de aumentar em dez vezes sua capacidade. Biológicos em alta!

Análise geral do agro em maço de 2022

Para concluir a nossa análise geral do agro em março, os preços dos principais produtos no fechamento desta coluna eram: a soja para entrega em cooperativa de São Paulo estava em R$ 196/sc e R$ 201/sc para junho e R$ 174 para março de 2023, um sensível aumento. No milho, a cotação atual está em R$ 102,00/sc e a entrega em agosto de 2022 fechou em R$ 88/sc. O algodão fechou em R$ 233/arroba e o boi gordo em R$ 335/arroba.
Encerrando o mês de março, os cinco fatos do agro para acompanhar em abril são: 

  1. A evolução da situação entre Rússia e Ucrânia, as negociações para um acordo e os inesperados resultados dos embargos em andamento sobre preços, fertilizantes e outras preocupações. É necessária muita cautela neste momento. Com todas as ações sendo tomadas por diversos países (ver quadro anexo), é provável que a oferta supere a demanda em algum tempo e derrube os preços.
  2. Início do plantio da safra nos Estados Unidos e também na Ucrânia; vale lembrar que a Ucrânia é o quarto maior exportador global de milho, com 15% de participação. Problemas relacionados ao cultivo do cereal (e também do trigo) podem estressar ainda mais a cadeia de suprimento e os preços dos alimentos nos próximos meses.
  3. O progresso das exportações brasileiras do agronegócio. Em fevereiro, batemos novo recorde e a China segue com a escalada de importações de soja e carnes do Brasil. O contexto geopolítico global também tem alterado as dinâmicas do comércio global, e esta pode ser uma oportunidade para abertura de novos mercados.
  4. Rendimentos da colheita de soja no Brasil e do plantio do milho safrinha. Aparentemente, o cultivo de milho está com bom desenvolvimento, graças à antecipação do plantio neste ano.
  5. A evolução do quadro político e econômico no Brasil, especialmente observando as medidas tomadas para amenizar impactos na economia (política de preços de combustíveis e outros). 

 

 

Marcos Fava Neves é Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da EAESP/FGV em São Paulo, especialista em planejamento estratégico do agronegócio. Acompanhe outros materiais na página DoutorAgro.com.
Vinícius Cambaúva é associado na Markestrat Group, formado em Engenharia Agronômica pela FCAV/UNESP e aluno de mestrado na FEA/USP em Ribeirão Preto – SP.
Beatriz Papa Casagrande é consultora na Markestrat Group, graduada em Engenharia Agronômica pela ESALQ/USP e aluna de mestrado na FEA/USP em Ribeirão Preto – SP.

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