Novas tecnologias e perspectivas dos produtos biológicos

As novas tecnologias são indispensáveis para atender o crescente desejo do consumidor global por produtos sustentáveis que, por sua vez, tem direcionado os produtores a uma agricultura conservativa e regenerativa. No cenário nacional, a instituição do Programa Nacional de Bioinsumos, datada de maio de 2020, possibilita a estruturação e regularização facilitada de novos produtos biológicos lançados no mercado brasileiro, por conta da segurança que essas inovações apresentam aos seus consumidores.

Atualmente, a legislação brasileira permite o lançamento de um novo produto biológico em um período de até 2 anos, enquanto o tempo de aprovação de um novo defensivo químico no Brasil pode chegar a 10 anos, segundo dados da Croplife Brasil. Essa agilidade no registro dos insumos biológicos atua como um incentivo aos produtores e investidores do mercado nacional, impulsionando cada vez mais a cadeia da categoria. Segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), no período de 1991 a 2021, foram registrados 433 novos produtos biológicos no país, sendo 22,2% destes lançados somente no ano de 2020. E a expectativa é de aumento desses números nos próximos anos.

Novas tecnologias a serviço do agro

Com investimentos em pesquisa de bioinsumos, novas tecnologias surgem no mercado, é o caso dos semioquímicos, uma classe de biodefensivos agrícolas que tem adoção crescente nas lavouras brasileiras. Esses produtos biológicos de controle são desenvolvidos a partir de substâncias químicas presentes em seres vivos e que irão afetar a sobrevivência de outros seres vivos indesejados no campo, de duas formas possíveis: pela ação de feromônios ou na forma aleloquímica. 

Os benefícios do uso de semioquímicos são inúmeros: manejo da resistência aos inseticidas tradicionais; redução de resíduos no produto final; redução de uso de combustíveis que seriam usados para aplicação de inseticidas tradicionais; redução de emissão de gases de efeito estufa; redução de custos, uma vez que já é possível produzir biotecnologicamente com um custo cinco vezes menor se comparado à forma sintética tradicional, segundo informações da Croplife Brasil; entre outros.

Outra tecnologia recente é a BioAs – Tecnologia de Bioanálise de Solo, ferramenta criada pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), para análise de solo, que agrega componentes biológicos enzimáticos para identificar danos à saúde do material analisado. Em comparação com indicadores físicos ou químicos, as enzimas “arilsulfatase” e “beta-glicosidase”, utilizadas nessa técnica, apresentam vantagem de identificar prejuízos mais rapidamente, levando a um maior rendimento de grãos e sanidade do solo. 

Além disso, outras vantagens incluem: alta precisão; auxílio na ciclagem do solo; não são influenciadas pela aplicação de adubos; baixo custo; e proporcionam uma análise simples. Assim, o produtor pode identificar problemas e solucioná-los mais rapidamente, com menor esforço e menor custo, e ainda proporcionando saúde ao ecossistema.

Em decorrência da demanda por novas tecnologias e descobertas, são necessários novos centros de pesquisa com profissionais qualificados e equipamentos que permitam produzir e disponibilizar produtos para o mercado, são eles as biofábricas de bioinsumos. Como exemplo do alto investimento contínuo no mercado de insumos biológicos, temos a recém inaugurada biofábrica da Embrapa Arroz e Feijão em Santo Antônio de Goiás, Goiás, criada com iniciativas pública e privada em novembro de 2022. 

O futuro do mercado brasileiro de bioinsumos é animador, com expectativa de despontar ainda mais no cenário global. Novas tecnologias têm emergido diante deste cenário e os próximos anos prometem grandes novidades para revolucionar ainda mais a agricultura, caminhando cada vez mais para sistemas regenerativos de produção.

 

O texto Novas tecnologias e perspectivas dos produtos biológicos foi escrito por:

Marcos Fava Neves é Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da EAESP/FGV em São Paulo, especialista em planejamento estratégico do agronegócio.  

Vinícius Cambaúva é associado na Markestrat Group, formado em Engenharia Agronômica pela FCAV/UNESP e aluno de mestrado na FEA/USP em Ribeirão Preto – SP. 

Beatriz Papa Casagrande é consultora na Markestrat Group, graduada em Engenharia Agronômica pela ESALQ/USP e aluna de mestrado na FEA/USP em Ribeirão Preto – SP. 

Rafael Barros Rosalino é analista na Markestrat Group, graduando em Medicina Veterinária pela FCAV/UNESP.

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