Agrivalle Markets 12: Novembro de 2022

Novembro de 2022 marca um ano de parceria (12 edições) trazendo o resumo dos principais fatos do agronegócio e os pontos de acompanhamento para vocês, produtores e profissionais do setor. E vamos a mais uma coluna.

Iniciamos destacando que, após um ciclo de três meses de deflação, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou alta de 0,59% em outubro; dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A categoria com maior alta foi a de “Vestuário” (+ 1,22%), mais a maior influência geral no índice veio pelo grupo “Alimentação e bebidas” (+ 0,72%). 

O crescimento para os alimentos vem, especialmente, por conta da alimentação em domicílio (+ 0,8%), com destaque para alta nos preços da batata-inglesa (+ 23,36%) e do tomate (+ 17,63%). Na outra ponta, registraram queda o leite longa vida (- 6,3%), que já havia caído no mês passado, e o óleo de soja (- 2,85%), registrando a quinta redução seguida.

Já as perspectivas para a economia brasileira foram apresentadas em novo boletim Focus/Bacen, do Banco Central do Brasil, de 14 de novembro de 2022. No relatório, o IPCA foi projetado para 5,82% ao término de 2022 (alta) e 4,94% ao final de 2023 (manutenção). Já o Produto Interno Bruto (PIB) deve crescer 2,77% este ano (alta) e 0,7% no próximo (manutenção). 

Em relação ao câmbio, as estimativas foram mantidas em R$ 5,20 para 2022 e também 2023. Por fim, a taxa Selic deve fechar 2022 em 13,75% e 2023 em 11,25%, os mesmos valores indicados no relatório anterior.

O Índice de Preços de Alimentos da FAO (Agência das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação) fechou outubro em 135,9 pontos, pouco abaixo do valor registrado há um mês (136,3 pontos). Com o resultado, o indicador alcançou 23,8 pontos de diferença (para baixo) quando comparado com o pico de 2022, que foi em março. Apesar da melhora nos últimos meses, os preços ainda estão 2,7 pontos superiores aos registrados em outubro do ano passado. 

Entre as categorias analisadas para o boletim de novembro de 2022, os preços de cereais apresentaram altas para praticamente todos os produtos: trigo com 3,2%; grãos grosseiros em 3,5%; o milho subiu 4,3%; e o sorgo fechou 3,0% mais alto. Já nas carnes, o índice caiu 1,4%, fechando o mês em 118,4 pontos; o destaque, nesse caso, é a baixa nos preços da proteína suína, graças às fracas compras globais (importações) e demanda estável em grandes consumidores no mês.

Nova estimativa para a safra 2022/23 de grãos

No Brasil, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgou a 2ª estimativa para a safra 2022/23 de grãos e, adivinhem: novo reajuste para cima! A produção total foi estimada em 313,0 milhões de t, um crescimento de 15,5% na comparação com o ciclo passado. Já a área deve ficar em torno de 76,8 milhões de há, 3,2% superior. 

Entre as principais culturas, o grande destaque segue sendo a soja, que deve entregar 153,5 milhões de t (+ 22,3%) em uma área de 43,2 milhões de ha (+ 4,2%). 

No milho, a área total deve ser de 22,3 milhões de ha (+ 3,4%) e oferta foi reestimada para 126,4 milhões de t (+ 12,0), sendo que 28,1 milhões de t serão produzidos em 1ª safra (22,2%) e 98,3 milhões de t em 2ª ou 3ª safras (77,8%). 

No algodão, produção de pluma deverá somar 3,0 milhões de t (+ 16,9%) em uma área de 1m6 milhão de há (+ 2,6%). Por fim, vale novamente o destaque para as culturas de inverno que, juntas, deverão entregar 11,3 milhões de t, crescimento de 21,1%; destaque para o trigo com 9,5 milhões de t (+ 23,7%). As perspectivas são muito boas. 

Vamos torcer para que o ritmo de plantio siga em nível satisfatório, como foi no último ano; para o que o regime de chuvas ajude os produtores; e para que as lavouras tenham um bom desenvolvimento. É hora de acompanhar tudo isso de perto!

Progresso das operações no campo

E falando em progresso das operações no campo, a Conab também divulgou atualizações sobre os avanços até 12 de novembro de 2022. No milho 1ª safra, 53,9% das lavouras já foram semeadas, contra 63,0% há um ano. Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraná, os 3 principais produtores, registram 82,0%, 52,0% e 93,0% de progresso, respectivamente. 

Na soja, o plantio alcançou 66,0%, contra 77,5% em 12 de novembro de 2021, um leve atraso no comparativo anual. Nos três principais produtores da oleaginosa, o cenário é o seguinte: Mato Grosso alcança 97,4% das áreas plantadas; o Rio Grande do Sul está ainda com 18,0% (era 29,0% há um ano); e o Paraná registra 79,0% de progresso. 

Outra cultura que está com atraso nas operações é o trigo. A colheita do cereal para 2022 está em 58,9%, contra 82,9% há um ano; este é o menor ritmo em 5 safras. Nos três estados da região sul, que concentram 90% da produção nacional de trigo, 43% das áreas já foram colhidas (média dos estados), sendo que, há um ano, o índice já estava em 78%. Nos demais estados, a colheita já foi finalizada.

Ao término das operações, a Conab estima que a produção de trigo em 2022 deve somar 9,5 milhões de t, 24% maior do que a safra 2021. Apesar da alta, o USDA estima que o Brasil deve consumir 11,8 milhões de t do cereal até o final do ano, ou seja, um déficit de 2,3 milhões de t.

Em relação às condições das lavouras, a Conab indica que boa parte dos grãos se encontra em condições ideais de pluviosidade, com algumas exceções: regiões sudoeste de São Paulo, triângulo mineiro e sul de Goiás, onde há registros de falta de chuvas. No milho 1ª safra, 73,4% das lavouras já se encontra em desenvolvimento vegetativo; 19,6% ainda em emergência; e 7,0% em floração. Na soja 80,6% dos campos estão em desenvolvimento vegetativo; 17,7% em emergência; e 1,6% em floração.

Perspectivas para agro internacional em novembro de 2022

No cenário internacional, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) divulgou novos relatórios com as perspectivas para os grãos em novembro de 2022. No milho, a produção global foi praticamente mantida nos mesmos níveis do mês anterior: 1.168,4 milhões de t, queda de 4,0% no comparativo com o ciclo 2021/22. 

Entre os principais países produtores, temos: Estados Unidos produzindo 353,8 milhões de t (- 7,6%) – era 352,9 no mês passado; China com 274,0 milhões de t (+ 0,5%) – valores mantidos; e Brasil com 126,0 milhões de t (+ 8,6%) – também mesma projeção. Já os estoques finais de milho foram novamente reajustados para baixo e devem ficar agora em 300,8 milhões de t (- 2,2%). 

Após a recuperação dos estoques em 2021/22, vemos agora a volta da tendência de queda, algo para acompanharmos de perto e que reforça a necessidade de choque de oferta do cereal!

Na soja, o USDA também manteve, em novembro de 2022, a estimativa de produção no mesmo patamar de outubro: 390,5 milhões de t, alta de 9,8% no comparativo com o ciclo agrícola anterior. No Brasil, maior produtor, a oferta deve ser de 152,0 milhões de t (+ 19,7%) – mesmo número. 

Já nos Estados Unidos, o USDA jogou as estimativas para cima, agora em 118,3 milhões de t (- 2,6%) – era de 117,4 no mês passado. E fechando o top 3, na Argentina, a produção do grão foi revista para baixo, indicada agora em 49,5 milhões de t (- 3,0%) – era de 51,0 milhões de t há um mês. 

Os estoques, por sua vez, foram elevados de 100,5 (outubro de 2022) para 102,2 milhões de t (novembro de 2022) e devem fechar esta safra com alta de 8,0%.

Os Estados Unidos partem para o encerramento de sua safra de grãos neste penúltimo mês do ano, na corrida antes que a neve cubra as principais regiões produtoras do país. No milho, 93% das lavouras já haviam sido colhidas até 13 de novembro de 2022 (média das últimas 5 safras: 85%). Na soja 96% das operações de colheita já foram concluídas (média é de 91%). Já o algodão apresenta 71% de avanços, mas o ritmo é bem avançado, já que a média das últimas 5 safras (2017 – 2021) é de 63%. 

Não devemos observar grandes alterações nos números norte-americanos nos próximos meses, considerando o estágio avançado das operações por lá.

VBP 2022 e perspectivas para 2023

Na atualização de novembro de 2022 para o Valor Bruto da Produção (VBP) Agropecuária, o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) reestimou o valor total de 2022 para R$ 1,179 trilhão, queda de 0,8% na comparação com o ano passado. O comportamento é justificado pela redução no VBP das cadeias da pecuária, que devem somar R$ 366,4 bilhões (- 3,4%), já que as lavouras devem crescer 0,4% com R$ 812,8 bilhões. 

O Mapa também divulgou a primeira previsão para 2023, que deve ser bastante positiva: serão R$ 1,237 trilhões ao todo (+ 4,9%), com as lavouras entregando VBP de R$ 856,3 bilhões (+ 5,4%) e a pecuária outros R$ 381,0 bilhões (+ 4,0%). Vamos torcer para que os preços ajudem e estes números se confirmem no próximo ano!

Exportações e importações

No comércio externo de agroprodutos, as exportações brasileiras do agronegócio alcançaram novo recorde em outubro: foram US$ 14,25 bilhões, alta de 61,3% na comparação com o mesmo mês de 2021, de acordo com dados divulgados pelo Mapa. 

Os volumes totais embarcados cresceram 38,9% no mês, enquanto que os preços médios tiveram alta de 16,1%. Entre as categorias com maiores receitas, temos: na liderança, o “Complexo Soja” com US$ 3,68 bilhões (+ 49,6%), sendo que a soja em grãos responde por US$ 2,5 bilhões, ou seja, 70,0% do total. 

Na segunda posição aparecem as “Carnes” com US$ 2,28 bilhões (+ 50,8%), sendo que a carne bovina exportou US$ 1,19 bilhão (+ 121,0%), a de frango US$ 804,7 milhões (+ 15,0%) e a suína outros US$ 234,8 (+ 8,8%). 

Na sequência estão “Cereais, Farinhas e Preparações”, com receita de US$ 2,19 bilhões (+ 386,6%), desempenho incrível gerado especialmente pela alta de 301,7% nos volumes embarcados de milho no mês (7,1 milhões de t); em quarto, está o “Complexo Sucroalcooleiro” que vendeu US$ 1,76 bilhão (+ 90,0%); e fechando o top 5 temos os “Produtos Florestais” com US$ 1,45 bilhão (+ 20,7%).

Do lado das importações, o agro brasileiro comprou US$ 1,40 bilhão (+ 2,0%) em outubro, o que permitiu um saldo de US$ 12,81 bilhões (+ 72,6%). No acumulado de 2022 (janeiro – outubro) o setor já exportou US$ 136 bilhões (+ 33,0%): é o mesmo que R$ 1,9 bilhão por dia (a um câmbio de R$ 5,20) e ainda faltam 2 meses para somar nesta conta. Nossa agro realmente com desempenho incrível!

Na soja, a comercialização da safra 2022/23 segue no ritmo mais lento desde 2014: até 4 de novembro de 2022, 19,1% da produção nacional havia sido vendida. Há um ano, o progresso era de 28,2% e a média histórica para o período é de 32,5%. 

Entre os principais fatores que justificam o atraso estão: os altos custos de produção e o anseio do produtor por melhores margens; a preocupação com o clima (La Niña na região Centro-Sul); as inseguranças com novo governo no Brasil; e a expectativa de preços melhores devido a prejuízos em lavouras da América do Sul. Bahia, Mato Grosso e Tocantins são os três estados com maior avanço nas vendas, que estão em 38,2%, 30% e 27%, respectivamente. Dados são também da Datagro.

E falando ainda em grãos, uma notícia importante foi a renovação do acordo de exportação no Mar Negro por mais 120 dias, em um acordo entre a Rússia e Ucrânia, que garante o escoamento de grãos ucranianos, contribuindo para amenizar os altos preços e garantir a segurança alimentar global.

Fertilizantes e bioinsumos

No mercado de fertilizantes, o Rabobank estima que a entrega destes produtos aos agricultores deve somar 44,5 milhões de t em 2023, um crescimento de 4,1% na comparação com as 42,75 milhões de t deste ano; será 1,75 milhão de t a mais. Os principais fatores que motivam este comportamento são os preços mais baixos, o nível elevado nos estoques de passagem e a maior segurança em relação ao fornecimento/entrega dos fertilizantes. Apesar da alta, o consumo deverá ser inferior ao recorde registrado em 2021, que foi de 45,8 milhões de t. 

Já nos bioinsumos, discussões na Câmara dos Deputados estimuladas pela Frente Parlamentar Mista da Bioeconomia cobram definições para segurança jurídica de empresas e produtos do setor no Brasil. Segundo os parlamentares, a movimentação global com os bioinsumos pode alcançar US$ 11 bilhões a partir de 2025. O Brasil é o maior mercado dos insumos biológicos no mundo, com taxa anual de crescimento de 32% e movimentações em torno de R$ 3,5 bilhões.

Conquista dos vinicultores brasileiros

E concluímos com uma notícia muito relevante no quesito de agregação de valor no agro brasileiro: a região do Vale do São Francisco recebeu, recentemente, o registro de Indicação Geográfica (IG) para vinhos finos, nobres, espumantes naturais e moscatel espumante. O reconhecimento, que entra na categoria de Indicação de Procedência (IP) compreende Lagoa Grande, Petrolina e Santa Maria da Boa Vista (em Pernambuco) e Casa Nova e Curaçá (na Bahia).

Encerrado o mês de novembro de 2022, os cinco fatos do agro para acompanhar em dezembro são: 

  1. Término do plantio e acompanhar o desenvolvimento das lavouras de verão no Brasil. O ritmo está pouco abaixo do ano passado e, no Sul, o atraso na colheita do trigo dificulta a semeadura de soja e milho. Ainda nada crítico, considerando os números atuais, mas é essencial olhar diariamente.
  2. Previsões para o clima, especialmente para os efeitos que a ocorrência do La Niña (pelo 3° ano consecutivo) pode trazer para as janelas ideias de pluviosidade. Lembrando que esta distribuição poderá impactar tanto os cultivos em andamento como a decisão de plantio para a safrinha.
  3. Conjuntura global no ambiente político-econômico, com destaque para a crise energética na Europa, especialmente agora que o inverno está iniciando e as pessoas terão que restringir o uso de eletricidade em diversas atividades; como a economia será afetada por estes cortes? Seguir olhando também para o fato que gerou o impacto anterior, a guerra entre Rússia e Ucrânia; até quando deve continuar e quais serão os desfechos? Momento de olhar o que os especialistas estão dizendo em relação a economia para 2023.
  4. Decisões político-econômicas do novo governo para 2023 e todos os assuntos sendo discutidos agora como a PEC da transição, o estouro do teto de gastos, as possibilidades de mudanças em tributação, o anúncio de quem serão os ministros de governo; enfim, todos estes movimentos.
  5. Olhar para o câmbio! Ao que parece, a economia está bastante suscetível a oscilações a depender de medidas (ou até mesmo falas) relacionadas ao novo governo. Desde o início de novembro de 2022 o dólar já oscilou de R$ 5,04 a R$ 5,42. Vamos acompanhar o que vem pela frente.

 

O boletim Agrivalle Markets 12: Novembro de 2022 foi escrito por:

Marcos Fava Neves é Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da EAESP/FGV em São Paulo, especialista em planejamento estratégico do agronegócio. Acompanhe outros materiais na página DoutorAgro.com.

Vinícius Cambaúva é associado na Markestrat Group, formado em Engenharia Agronômica pela FCAV/UNESP e aluno de mestrado na FEA/USP em Ribeirão Preto – SP.

Beatriz Papa Casagrande é consultora na Markestrat Group, graduada em Engenharia Agronômica pela ESALQ/USP e aluna de mestrado na FEA/USP em Ribeirão Preto – SP.

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